Descarbonização da indústria cerâmica

A indústria cerâmica tem operações que atuam em condições de alta temperatura, motivo pelo qual o consumo energético tem uma expressão relevante. Por vezes, o peso dos custos energéticos chega a ser superior aos gastos com pessoal, o que tem implicações na competitividade deste setor. Em média, 30 a 40% dos custos de produção referem-se ao consumo energético, onde o gás natural representa 85% e os restantes 15% ocupados pela eletricidade, estando relacionado com cerca de 84% das emissões setoriais de CO2. 

O hidrogénio verde é um vetor energético essencial para diminuição das emissões do setor da cerâmica, uma vez que está isento de emissões CO2  e não compromete o desempenho industrial. Produzido a partir de fontes de energia renováveis endógenas e a ser consumido localmente, permite o processo de queima em fornos com o maior potencial técnico entre as soluções verdes.

Em termos industriais, o hidrogénio é um gás cuja utilização se encontra regulamentada, não diferindo nesse aspeto com outras matérias-primas utilizadas na indústria. O impacto na competitividade vai decorrer de outros fatores a ter em consideração futura, incluindo a penalização associada à emissão de CO2  que agravará significativamente o custo do gás natural consumido em benefício do hidrogénio.

Em Espanha, por exemplo, num dos maiores clusters cerâmicos da Europa, onde se concentra 95% da indústria cerâmica espanhola, foi implementado o projeto ORANGEBAT. Num consórcio internacional de 40 organizações, o objetivo do ORANGEBAT é estabelecer o caminho à total descarbonização de um setor intensivo em termos de energia pela incorporação do hidrogénio verde na indústria.

O projeto foi submetido à convocatória do EU Green Deal para a concessão de apoios para superar o gap financeiro da solução e permitir a viabilidade comercial. O arranque está previsto para o início de 2024 e a parceria cobre toda a cadeia de valor, desde a geração e armazenamento de hirogénio até ao seu consumo, passando pela distribuição ao consumidor final, incluindo grandes players industriais, empresas de investimento, centros de investigação, organismos institucionais e um vasto conjunto de empresas que irão usar como combustível o hidrogénio verde a produzir.